Se nos últimos anos o açúcar "pagou a conta" do etanol, na safra 2013/14 a relação tende a se inverter. A estimativa é que os preços médios do açúcar nesta temporada sejam, em média, 18% mais baixos que na anterior, enquanto os do biocombustível deverão ser pelo menos 7% mais elevados. Dessa forma, a conjuntura positiva para o etanol corre o risco de ser neutralizada pelo mau momento do açúcar. Assim, o faturamento bruto do segmento no Centro-Sul neste ciclo deverá refletir apenas o crescimento de volumes produzidos, não de melhores preços.
De acordo com estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), associação que representa as unidades produtoras de cana do Centro-Sul, o segmento sucroalcooleiro da região deve faturar R$ 60,5 bilhões em 2013/14, 8% a mais que no ciclo anterior. A projeção não inclui tributos e fretes e é realizada com base em preços do Estado de São Paulo. "O efeito dos preços mais altos do etanol será neutralizado pelas cotações baixas do açúcar. O que fará diferença será o volume adicional de produção", afirma Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da entidade.
A entidade anunciou ontem que a disponibilidade de cana no Centro-Sul chegará a 607 milhões de toneladas e que as usinas vão conseguir moer - se o clima for favorável - 589 milhões de toneladas, o que representaria aumento de 10,67% em relação ao total realizado em 2012/13. Com isso, a produção de etanol tende a crescer 18,77%, para 25,3 bilhões de litros, e a de açúcar deve avançar 4,11%, para 35,5 milhões de toneladas.
A produção de etanol tende a crescer mais por uma razão muito simples: pelo menos neste momento, os preços do biocombustível estão mais atrativos. Conforme Pádua, o reajuste de 6,6% na gasolina no país permitirá que os preços médios do etanol hidratado na usina fiquem, em média, em R$ 1,20 por litro. O valor é 7,14% superior ao registrado no ciclo anterior. "O potencial é para ser até mais elevado que isso, o que pode influenciar positivamente tanto o anidro como o açúcar", diz Padua.
Em contrapartida, as perspectivas para o açúcar permanecem negativas. Preços médios de R$ 35 por saca (50 quilos) devem acompanhar as usinas durante a safra 2013/14, 18% abaixo dos R$ 43,22 da temporada 2012/13, encerrada em março. Dessa forma, é natural que a safra se inicie com uma perspectiva alcooleira. As usinas do Centro-Sul planejam, segundo a Unica, direcionar 53,78% do caldo da cana para fabricar o biocombustível, ante 50,46% em 2012/13.
Mesmo assim, a produção de açúcar vai crescer 4,11%, com reflexos sobre o excedente exportável da commodity. A Unica projeta que a região terá 25,8 milhões de toneladas de açúcar disponíveis para exportação em 2013/14, 6,12% mais que na safra anterior. As usinas do Centro-Sul embarcaram no ciclo passado 24,3 milhões de toneladas, o que resultou em receita de US$ 12,2 bilhões, ante US$ 12,9 bilhões da safra anterior.
As usinas da região já fixaram em bolsa - ou com as tradings com as quais negociam - os preços de cerca de 53% do açúcar que será exportado nesta temporada, segundo cálculos da Archer Consulting. O preço médio, conforme a consultoria, está até o momento no patamar de 19,32 centavos de dólar por libra-peso, 16% abaixo dos 22,98 centavos de preço médio da safra 2012/13. Para o etanol, a Unica estima exportações 21,9% menores, de 2,7 bilhões de litros.
Avanço em 'rating operacional'Criado há um ano para emitir ratings "operacionais" de usinas de cana-de-açúcar, o Biomass Energy Research Institute (Benri), que tem como sócios as consultorias Datagro e Fermentec, pretende em 2013 elevar o número de usinas classificadas para 20 a 25. Em 2012, foram 14 unidades que somam capacidade para processar 25 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Elas estão distribuídas nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
O Benri é uma espécie de agência de classificação de risco, mas que não verifica aspectos financeiros das companhias sucroalcooleiras, apenas operacionais. Assim, explica o CEO da empresa, Manoel Bertone, a classificação considera 50 indicadores agrícolas e 40 industriais. O objetivo, diz ele, é categorizar a eficiência gerada pelos procedimentos operacionais das usinas.
Bertone explica que o mercado sucroalcooleiro mudou muito nos últimos anos, com a participação de grandes multinacionais e bancos financiando o segmento, transformações que trouxeram a demanda por esse tipo de instrumento. " Trata-se de um segmento com forte peso agrícola. Por isso, uma opinião independente na área operacional é tão importante quanto uma auditoria financeira", diz. Além de usinas, o Benri tem como clientes potenciais fundos interessados em investir ou aumentar participação no segmento
Fonte: Valor
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