Governo vai desonerar combustível para estimular investimento.
Em breve pode voltar à moda nos postos de combustíveis em todo o país a expressão “completa com álcool”, ainda que adaptada com o nome que o derivado da cana-de-açúcar ganhou em 2009: etanol. A alternativa voltará a ser financeiramente viável, se o novo pacote de incentivos que o governo federal lançará para o setor sucroalcooleiro nos próximos dias resultar efetivamente em um empenho maior de agricultores e usineiros em ampliar a produção. Nos próximos dias, mais um conjunto de desonerações para o setor será anunciado, com redução praticamente total da alíquota de PIS/Cofins sobre o etanol, hoje em 9,25%.
Outros incentivos ainda estão em discussão, como novas desonerações sobre a folha de pagamento. No ano passado, o governo já abriu linhas de financiamento bilionárias para estocagem e renovação de canaviais. E, partir de maio, a participação do álcool hidratado na mistura da gasolina sobe de 20% para 25%.
Nos últimos anos, a concorrência nos campos com a soja, a disparada do preço do açúcar, a valorização dos terrenos e a quebradeira das usinas levaram à estagnação do setor, restringindo o volume de etanol no mercado e mantendo os preços na bomba em nível pouco atraente para os 57% da frota de automóveis no país que podem ser abastecidos tanto por gasolina quanto por etanol.
Consumo de 32 bilhões de litros
O governo espera retomada dos investimentos e ampliação na produção de cana-de-açúcar no país, estagnada desde 2009. Segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), desde 2008, 41 usinas fecharam, reduzindo a capacidade de processamento de cana em 32 milhões de toneladas por ano. Contudo, com essas desonerações, o preço pago pelo litro do álcool hidratado ao produtor vai subir de cerca de R$ 1,25 para além de R$ 1,30, segundo uma fonte do governo.
— Nós vamos dar este ano uma importância estratégica para o setor do etanol, que teve várias dificuldades — avisou a presidente Dilma Rousseff em discurso no mês passado.
Avalia-se, em Brasília, que exista agora um ambiente favorável ao segmento sucroalcooleiro que não é percebido desde o Proálcool, de 1975. Uma estimativa preliminar do governo, à qual o GLOBO teve acesso, mostra que o consumo do combustível pode chegar a 32,5 bilhões de litros este ano, contra 19 bilhões de litros em 2012. Para 2020, a demanda projetada deve atingir 63,1 bilhões de litros. Com as últimas medidas anunciadas pelo governo, o setor garante que vai produzir de 26 bilhões a 27 bilhões de litros.
A indústria já mostra disposição em acelerar investimentos. A Odebrecht Agroindústria prevê elevar sua área plantada com cana de 220 mil hectares na safra passada para 550 mil na safra 2014/2015, com previsão de R$ 1 bilhão em investimentos neste ano. No ano passado, a Copersucar uniu-se à americana Eco-Energy para vender etanol no mundo.
Com uma produção maior, a demanda por álcool poderia ser estimulada pelo preço menor. O aumento das vendas do produto também poderia reduzir as importações de gasolina, que pesaram na redução do lucro da Petrobras no ano passado. Diante do cenário atual, porém, o governo não espera uma competitividade mais forte do etanol na bomba antes da safra de 2014/2015.
Unica pede ajuste estrutural
Apesar dos incentivos, a indústria aponta que deficiências estruturais do mercado brasileiro ainda tiram a competitividade do etanol no cenário interno e, principalmente, no externo. Uma delas, a logística, está sendo enfrentada com um alcoolduto de R$ 7 bilhões que deverá ser inaugurado em abril na Região Sudeste. Outro mais relevante, porém, é a elevada carga tributária do setor.
— O governo já está agindo em questões pontuais, mas ainda precisamos de ajustes estruturais. Para que haja uma nova rodada de investimentos, são necessárias medidas de fundo — disse o porta-voz da Unica, Adhemar Altieri.
— Neste momento em que o governo vai ter que produzir mais etanol para importar menos gasolina, que está causando dano à balança comercial e à Petrobras, é importante fazer a conta racional de custo-benefício. Se o prejuízo que estamos tendo com a importação de gasolina fosse investido no etanol, muito poderia melhorar a produção — disse Roberto Giannetti, ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior do governo e diretor da Fiesp.
Para o governo, o setor tem de aproveitar esses incentivos e a conjuntura para reduzir custos e aumentar a produtividade da área plantada. O secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Cid Caldas, lembra que os custos de produção aumentaram por várias razões, entre elas a mecanização:
— Uma máquina custa em torno de R$ 1 milhão. Além disso, houve redução da produtividade porque houve casos em que as máquinas entraram em área que não estava preparada para aquele tipo de corte (que exige plantas alinhadas).
Investimentos em etanol de segunda geração, a partir de celulose, por exemplo, e a expectativa de o governo liberar em breve a cana transgênica (mais resistente a secas) também podem tornar o produto nacional mais competitivo, interna e externamente.
Os Estados Unidos querem substituir boa parte dos combustíveis fósseis por renováveis, e a cana-de-açúcar é uma grande opção, disse recentemente o presidente Barack Obama. Os EUA continuam o principal mercado para o Brasil — quase 70% das exportações —, mas a União Europeia vem adotando restrições, que praticamente fecharam o mercado para o nosso etanol de cana
Fonte: O Globo
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