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Safra recorde não evitou queda do PIB agrícola | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

Safra recorde não evitou queda do PIB agrícola

Os problemas climáticos e as barreiras sanitárias prejudicaram o resultado do PIB da agropecuária em 2012, segundo o IBGE. Apesar da safra recorde de grãos, houve um recuo de 2,3% no segmento no ano em relação a 2011.

Não fosse o mau desempenho da agropecuária no quarto trimestre, o PIB brasileiro teria crescido 0,9% em relação ao terceiro trimestre, em vez de apenas 0,6%, de acordo com cálculos da LCA Consultores. As perdas levam ainda a prejuízos indiretos em outros segmentos, embora o PIB agropecuário tenha um peso de apenas 5,2% no PIB total do País.

"Seus impactos indiretos - sobre o consumo (via renda agrícola), sobre os investimentos (caminhões e maquinário agrícola) e sobre a agroindústria (como, por exemplo, as usinas sucroalcooleiras) - não são desprezíveis. De fato, a correlação das variações do PIB agropecuário com o restante do PIB é bastante elevada", alertou a LCA.

Em 2012, houve aumento na produção de milho e café, mas culturas importantes tiveram redução no volume produzido, como arroz, soja, cana-de-açúcar, laranja, mandioca e algodão. "Há vários fatores que explicam isso, como a (queda na) produtividade, a seca e fatores sanitários", citou Roberto Olinto Ramos, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

As perdas na safra de verão provocadas pela estiagem no início do ano passado são as maiores responsáveis pela queda do PIB agropecuário, segundo José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro. Mas os preços mais baixos também contribuíram.

"A principal queda que tivemos foi a produção de soja, com perdas muito fortes no Sul do País. Tem também outros produtos que não desempenharam muito bem: tiveram produção maior, mas preços piores", disse Hausknecht.

O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE apontou safra recorde de 162,1 milhões de toneladas de grãos em 2012, mas não inclui itens de peso no setor agropecuário, o que provocou divergências entre o aumento no volume produzido e a queda no PIB.

"A estimativa da safra de cereais e leguminosas não engloba a cana, a laranja, e eles tiveram queda. São (produtos) bem pesados (no PIB da agropecuária) e estão fora da safra de cereais e leguminosas", ressaltou Rebeca Palis, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.

Outro fator que pode ter pesado no fraco desempenho no ano foi a pecuária, que tem cedido área para a agricultura. O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva, afirma que a atividade atravessa um momento de "rentabilidade aquém do razoável".

"O setor tem mantido padrão de produção, mas está defasado na correção de preços", disse Silva. "Vamos colher recorde de 180 milhões de toneladas de grãos este ano, em parte como resultado da dificuldade da pecuária", acrescentou.

Rentabilidade. O pecuarista José Lopez Fernandez Netto, criador da raça pardo-suíço em Itapeva, no sudoeste paulista, vê a queda no PIB agropecuário como decorrência da perda de rentabilidade do setor. O preço da arroba do boi oscila há dez anos num mesmo patamar e não acompanhou os custos de produção, diz ele. Como o boi tem ciclo longo, de três e quatro anos até o abate, a renda fica diluída.

Netto conta que os pequenos e médios criadores de gado são os mais afetados, pois não têm produção em escala, embora representem a maior parcela do setor. Eles estão migrando para outras atividades. "Qualquer outro uso que ele faça da terra rende mais." As terras de pastagem da região que nos últimos dez anos foram arrendadas à lavoura, não voltaram para a pecuária. "Em parte, a grande produção de soja e milho do Brasil se deve ao boi, que cedeu a área para o grão."

Ele mesmo está entre os pecuaristas da região que transformaram parte da fazenda de gado em lavouras de soja e milho, ou cana-de-açúcar. "Fiquei com um plantel apenas para produzir genética. O gado no botijão de hidrogênio compensa mais do que no pasto." Como exemplo, ele cita a venda recente de uma vaca por R$ 3 mil. "Tive um lucro de R$ 300, mas, se considerar que o animal estava havia oito anos no pasto, isso vira nada."

O criador acredita que o caminho para a pecuária é a produção em escala, ligada a outras cadeias produtivas, como a produção de grãos. Segundo Netto, mesmo os grandes produtores de gado em confinamento enfrentaram problemas no ano passado por causa do alto custo dos insumos.


Fonte: O Estado de S. Paulo

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